No Antigo e Novo Testamento, encontram-se pessoas que têm uma identidade e um lugar na história da salvação. Por isso, Adão, José do Egito e Moisés são figuras bíblicas que apontam Jesus; Eva, Judite e Ester assim são entendidas, em relação a Maria. Há um elemento histórico e uma razão teológica na identificação da semelhança entre essas pessoas, sua vocação e missão. No plano humano, social e político, todavia, diferenciam-se: José, de humilde chega às alturas do poder no Egito, Jesus, de sua glória no céu, humilha-se ao assumir a condição humana.
Nesse tempo quaresmal, por exemplo, a liturgia da Igreja Católica evidencia a pessoa de José do Egito, como figura de Jesus Salvador. Na história da salvação, há semelhanças entre eles. Essa relação pode ser percebida, sob vários aspectos: ambos são amados pelo Pai e enviados pelo Pai, rejeitados por seus irmãos de sangue e de humanidade, são vítimas de traição, são instrumentos de reconciliação e perdão.
A história de José do Egito é muito tocante, sob esses aspectos: “Ora, como os irmãos de José tinham ido apascentar os rebanhos do pai em Siquém, Israel disse a José: ‘Teus irmãos devem estar com os rebanhos em Siquém. Vem! Vou enviar-te a eles’. Ele respondeu-lhe: ‘Aqui estou’. Disse-lhe Israel: ‘Vai ver se teus irmãos e os rebanhos estão passando bem e traze-me notícias’. Assim o enviou do vale de Hebron, e José chegou a Siquém. (...) José foi à procura dos irmãos e encontrou-os em Dotain. Eles, porém, tendo-o o visto de longe, antes que se aproximasse, tramaram a sua morte. Disseram uns aos outros: ‘Aí vem o sonhador! Vamos matá-lo e lançá-lo numa cisterna. Depois diremos que um animal feroz o devorou. Assim veremos de que lhe servem os sonhos’. Ruben, porém, ouvindo isto, tentou livrá-lo de suas mãos e disse: E acrescentou: ‘Não derrameis sangue. Lançai-o naquela cisterna no deserto, mas não levanteis a mão contra ele’. Dizia isso porque queria livrá-lo das mãos deles e devolvê-lo ao pai. (...) Ao passarem os comerciantes madianitas, os irmãos tiraram José da cisterna e por vinte moedas de prata o venderam aos ismaelitas, que o levaram para o Egito. (...) E José disse a seus irmãos: ‘Eu sou José! Meu pai ainda vive?’ Mas os irmãos não conseguiam responder nada, pois ficaram estarrecidos diante dele. José, cheio de clemência, disse aos irmãos: ‘Aproximai-vos de mim’. Tendo eles se aproximado, ele repetiu: ‘Eu sou José, vosso irmão, que vendestes para o Egito. Entretanto, não vos aflijais, nem vos atormenteis por me terdes vendido a este país, pois foi para conservar-vos a vida que Deus me enviou à vossa frente.’” (Gn37,12-22.28; 45,3-5)
O Pai revelou seu amor a Jesus: “Tu és o meu Filho amado; em ti está o meu agrado”. (Mc 1,11) Jesus veio ao mundo, enviado pelo Pai: “Pois Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele.” (Jo 3,17) (Jo 1,11) Conforme São João, no Prólogo do Evangelho, Jesus é a Palavra: “Ela veio para o que era seu, mas os seus não a acolheram.” Traído por Judas, Jesus foi vendido por trinta moedas, (cf Mt 26,25; 47-50; 27,3-4), crucificado e morto pelos seus. (cf Lc 22-24) No seu coração misericordioso, Jesus perdoa os seus perseguidores e algozes: “Pai, perdoa-lhes! Eles não sabem o que fazem!” (Lc 23,34)
José do Egito, pelos laços da consanguinidade, e Jesus de Nazaré, pela decisão do poder religioso e político, foram vítimas de tramas injustas da maldade humana. Com seu gesto de perdão, José humanizou a vida na família e Jesus divinizou a vida na sociedade.
Dom Genival Saraiva de França é Bispo da Diocese de Palmares - PE; Presidente da Conferência Nacional de Bispos Regional Nordeste 2 (CNBB NE2), Responsável pela Comissão Regional de Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz; Diretor presidente do Conselho de Orientação do Ensino Religioso do Estado de Pernambuco (CONOERPE); Membro efetivo do Conselho Econômico da CNBB NE2.
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